- padreribeiroa
Acolhimento
Parece ser uma grande incongruência falar, nos dias de
hoje, de acolhimento numa sociedade que perfuma exacerbadamente
o vírus do individualismo. Há perda considerável do compromisso da
ética de responsabilidade que uma pessoa deve ter pela outra. A
conquista do verdadeiro sentido da vida não é uma realidade só
pessoal, mas também tendo uma dimensão de vida comunitária.
A prática das atitudes de acolhida pode mudar a vida das
pessoas, porque os gestos têm grande força transformadora. Eles não
só conseguem unir, mas também levam à superação de muitas
diferenças. Assim podemos até afirmar que, nos verdadeiros gestos
de acolhida está presente algo próprio de arrependimento e a
capacidade real do exercício do amor fraterno.

A palavra “acolhimento” tem uma dimensão fortemente
comunitária, porque provoca união e fraternidade entre as pessoas. É
impossível ser feliz aquele que vive dividido dentro de um grupo de
indivíduos, dificultando o calor humano
entre seus membros. Como
muito bem diz o ditado popular: “Ninguém é uma ilha”, desconectado
totalmente de uma verdadeira convivência de fraternidade.
O acolhimento, como dito acima, pode transformar a vida
das pessoas. Foi justamente o que aconteceu com o apóstolo Paulo,
antes defensor da Lei de Moisés, agora passou de perseguidor de
Jesus Cristo e dos cristãos a ser anunciador coerente da Palavra de
Deus (cf. I Tm 1,12-13). Quando somos motivados por fundamentos
autênticos, podemos mudar totalmente de comportamento.
Na parábola da ovelha perdida, contada por Jesus, Ele age
contra o acúmulo, porque deixa as noventa e nove de lado e vai à
busca de uma só que havia desaparecido (Lc 15,3). A acolhida tem
uma dimensão divina e deve ser para todos, até mesmo aos filhos
que abandonam a casa do pai e caem numa vida desregrada, mas
voltam e são acolhidos novamente de forma fraterna no seio familiar.
Dentro do contexto do acolhimento e da sensibilidade das
pessoas, no tempo de convivência, podemos colocar a palavra
solidariedade. Supõe verdadeira mudança de comportamento e de
conduta, alteração de itinerário e construção de novos valores para a
vida. É um processo que exige conversão, que acaba refletindo na
vida da comunidade. Essa era a prática exigida por Jesus.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.